Politiquices...




... De qualquer modo, mesmo com o melhor dos carácteres, a mais pura das motivações, a verdade é que se vai para a política, ... , com a intenção de representar um papel, de exercer uma acção, de moldar os outros. Talvez não fosse absurdo pensar no que sucederia se, em lugar de tudo isso, se entrasse na política com a ideia de perguntar o que precisa o mundo, o que podem os homens à volta; com a ideia de sofrer uma paixão mais do que exercer uma acção; com a ideia de se moldar a si próprio antes de imaginar qualquer escultura sobre os outros. Manter a alegria durante a actuação política, manter a confiança no melhor dos outros e o amor dos outros, encontrar a fonte perpétua de energia, exige que o político ao entrar em cena faça ao mesmo tempo o abandono de si próprio, ...

... Nenhum político deve esperar que lhe agradeçam ou sequer lhe reconheçam o que faz; no fim de contas era ele quem devia agradecer pela ocasião que lhe ofereceram os outros homens de pôr em jogo as suas qualidades e de eliminar, se puder, os seus defeitos; ... e se, no fim da jornada, reconhecer que não realizou qualquer sonho que por acaso tenha, console-o ter possibilitado a realização dos sonhos de muitos outros, ...


Agostinho da Silva in As aproximações

Sem comentários: